Como conhecer alguém, ou mesmo a si próprio, em sua totalidade? E possível separar quem somos de fato do personagem que construímos? Como montar um quebra-cabeça que se proponha a ser uma verdade? Em seu terceiro livro, o romance Tentativas de capturar o ar, Flavio Izhaki investiga com sensibilidade e delicadeza essas questões, reforçando sua posição como um dos autores mais interessantes de sua geração. Tentativas de capturar o ar nos apresenta a pesquisa biográfica inacabada de um grande escritor, Antônio Rascal. Com seu projeto, o jovem acadêmico Alexandre Pereira tenta responder, ou ao menos encontrar hipóteses bem formuladas, para a Grande Pergunta: por que Rascal não publicou nada novo em 26 anos? Para isso, conta com matérias, resenhas e uma serie de entrevistas conduzidas com pessoas próximas ao autor, incluindo sua esposa, sua agente literária, amigos e o primeiro editor. Mas o surgimento de dois textos supostamente inéditos um deles, uma possível confissão em forma de carta para seu filho mudam os rumos do projeto e apresentam um novo desafio: como não tomar ficção por verdade? Aos poucos, Pereira percebe que tenta capturar o impossível: a verdadeira identidade do biografado, como uma serie de vivencias e escolhas alterou seu caminho e o levou a ser quem era ou quem os outros acreditavam que era. Mais: a medida que mergulha na pesquisa, e na relação entre Antônio Rascal e seu filho, o acadêmico se debruça sobre si mesmo, deixando vazar para o projeto sua busca por si. Tentativas de capturar o ar e um livro sobre identidade, busca e fuga, mesmo que imóvel. Toca ainda na atmosfera de desencanto frente a distancia entre nossas expectativas e a realidade, além da questão das relações familiares, presentes nos dois primeiros livros de Flavio Izhaki, De cabeça baixa (Guarda-chuva, 2008) e Amanha não tem ninguém (Rocco, 2013) semifinalista do Premio Portugal Telecom 2014. (Rocco)