A dezena de textos ainda vivos de Artur Azevedo, de uma producao copiosa, nao desenha a imagem completa do grande homem de teatro. Temos, na posteridade, o vezo de julgar um nome somente pela permanencia da obra literaria. No teatro, fazem-se as contas das pecas ainda representaveis, e surge o veredito rude, se poucas parecem resistir a prova do palco. Artur Azevedo, ressumado o seu prodigo labor que, entre comedias, revistas, burletas, vaudeviles, traducoes e adaptacoes, alcanca cerca de duzentos titulos, seria prejudicado por essa visao parcial. No proprio campo da dramaturgia, espanta essa atividade infatigavel em apenas 53 anos de existencia, que contrastam com a fama de boemia e com os textos literarios, a volta de novecentos. Gorda e bonacheirona figura, simbolo do patriarca num Rio que ja exigia pesados sacrificios a seus habitantes, Artur Azevedo nao se reduz a faceta de autor. No quadro de seu tempo, enriqueceu a extraordinaria personalidade como um dos maiores batalhadores do nosso teatro. Nao abdicamos, no caso, de um criterio puramente artistico. Um homem como ele nao escreveu apenas pecas e se, na literatura, cultivou ainda o conto e a poesia humoristica, alem de ter sido critico, definiu-se, sobretudo, como admiravel animador do movimento cenico. (Global Editora)