Entre maio de 1968 e outubro de 1969, já consagrada na literatura brasileira, Clarice Lispector manteve uma seção na revista Manchete, onde publicava entrevistas com figuras importantes da cultura do Pais. Sob um titulo condizente com o de boa parte de sua obra Diálogos Possíveis com Clarice Lispector , a seção trazia um pouco do mundo dos amigos da escritora, que discorriam sobre diversos temas, pontuados com observações da especialíssima repórter, que voltou as entrevistas em fins de 1976, na revista Fatos e Fotos: Gente, onde permaneceu ate outubro do ano seguinte, dois meses antes de morrer. Algumas das conversas de Clarice estão em Entrevistas Clarice Lispector, que, mais do que contar a vida e opiniões de personalidades como Nelson Rodrigues, Ferreira Gullar, Emerson Fittipaldi, Oscar Niemeyer e Vinicius de Moraes, revelam muito da escritora e do comportamento naquelas épocas. As entrevistas de Clarice Lispector apresentam um pais muito distante do Brasil atual, em que o cenário cultural e povoado por artistas que não se acanham em informar que trabalham para sobreviver e não demonstram erudição. Com simplicidade, o poeta Ferreira Gullar explica que seu trabalho sempre foi de redator do jornal O Estado de S. Paulo. O glamour das grandes divas e reservado ao palco. Bibi Ferreira e que vai a casa de Clarice para ser entrevistada, enquanto Elis Regina da uma carona de carro a escritora. Sem qualquer pudor profissional, conta que pede uma entrevista a Emerson Fittipaldi na fila do aeroporto, mas, dentro do aviao, embarca em conversa com a designer Bea Feitler, que não encontrava ha anos. Um comissário de bordo e que vai lembrá-la que o automobilista a aguardava, poltronas a frente. Relatando pequenos detalhes de cada entrevistado, surge uma Clarice Lispector bem-humorada, curiosa e determinada a informar e entreter, sem deixar de induzir a reflexão sobre o momento político brasileiro. (Rocco)