Edith Derdyk traz como principal elemento das composições de seu novo livro, Coisa com coisa, os instrumentos do ofício de um ilustrador, usados no processo de trabalho de uma autêntica inventora de combinações visuais inusitadas. Esse trabalho se processa de maneira inteiramente visível, e coisas engendram coisas, como o título sugere. A narrativa fica explícita no começo do livro, com um tradicional “era uma vez” ao lado de objetos – furador de papel, papelão ondulado, papel, clipes etc. – “desorganizados” ou acumulados sem uma ordenação formal mais evidente. Ao virar a página, muitos desses objetos reaparecem como os elementos que organizam tanto a cena como os personagens. O rearranjo desses materiais, então, desdobra o andamento plástico-narrativo bastante particular do livro. Em sua sabedoria sobre a infância, a autora parece consciente de que, como escreve Walter Benjamin, “Nesses produtos residuais [de diversos trabalhos], elas [as crianças] reconhecem o rosto que o mundo das coisas volta exatamente para elas, e somente para elas”.
(Mov Palavras) (Mov) (Movimenta) (Editora Pensarte)